Imagem "o que eles pensam"

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quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Atitude - Doce Despedida

 
Fácil é dizer que é difícil se despedir.
Irônico como a maioria das pessoas se desapega com muito mais facilidade de um ente querido que partiu do que de um relacionamento que chegou ao fim. Normal escutarmos coisas como "Foi melhor assim, ele estava sofrendo muito" referindo-se a uma pessoa que não resistiu a morte, mas quando se trata de uma relação desgastada e doente, é inadmissível que alguém queira se despedir. 
O excesso de orgulho e a falta de amor próprio faz com que acreditemos piamente que aquele que partiu, partiu também o nosso coração, quando na verdade, simplesmente nos devolveu-o como quem diz: "obrigado por ter confiado seu coração a mim, eu fiz o que pude, mas agora é com você". Ao invés de aceitar a honesta restituição sem machucar ninguém questionando os motivos que já não importam, insistimos em fazer a lambança final e despedaçar com as próprias mãos esse coração exausto, só para finalmente poder dizer "Viu o que você fez?" feio e soluçando.

Por que é tão difícil acreditar que a pessoa amada simplesmente desistiu? Será que a despedida não seria, na verdade, uma última prova de amor? É aquele derradeiro desfecho da história que nunca teríamos coragem suficiente de finalizar.
Não que eu seja imune ao sentimento da saudade, porque é exatamente isso que dói mais pós fim, mas acredito em vida após o amor. 
O verdadeiro desafio é retomar à rotina singular que tínhamos antes de tomar a decisão, muitas vezes precipitada, de dividir o nosso afeto com uma pessoa que vai passar pelo mesmo processo de abnegação quando tudo terminar.
Tudo que eu aprendi de mais valioso foi ao ser deixado, aliás, quem inventou o termo "ser abandonado" tinha um sério problema de auto estima, já que não há promessa que dure para sempre e não existe nada de errado em separar-se das pessoas. 
Relacionamentos terminam muito mais do que começam, e geralmente, após o período dramático das lamentações, sempre encontramos algo bonito na despedida.

Ainda me lembro da enorme quantidade de coisas que descobri tentando ocupar a cabeça para não sentir a agonia de ter sido deixado, e ainda que não tenha fruído 100% de tudo que experimentei na época, ficou o conhecimento que adquiri em todas as situações. Nas leituras que fiz, lugares que conheci, nas músicas que escutei, nos filmes que assisti e nas drogas que usei.
Se me pedissem para escrever sobre "despedida" há anos atrás, com certeza faria um texto dramático e muito mais parecido com o que as pessoas precisam ler para se identificarem emocionadas. 
Hoje me considero uma versão evoluída de alguém que já sofreu porque achou que era necessário para prender algo novo na época, mas que aprendeu a se despedir sem despedaçar-se. Dizem que reagir com maturidade ao invés de desespero à situações emotivas adversas caracteriza frieza. Mas não existe atitude mais mesquinha e em vão do que espernear diante de alguém que não te deseja. 
A busca pela felicidade pode ser prática porque é um direito pleno de todos os seres humanos que deve ser exercido incondicionalmente. Eu mesmo já me despedi algumas vezes porque sabia que se ficasse estaria privando duas pessoas de serem felizes. 

Existe uma beleza incrível na melancolia de se desligar dignamente das pessoas que escolhem ir embora porque, somente depois que elas se vão, conseguimos retomar o elo perdido com a nossa essência. No relacionamento interpessoal não existem sentimentos não correspondidos. 
O fato é que, sempre estamos sozinhos, mesmo quando estamos acompanhados. Acostumar-se com o que as pessoas chamam de "solidão" nada mais é do que aprender a conviver bem com tudo aquilo que realmente somos, já que os momentos em que somos mais verdadeiros são justamente aqueles em que estamos sozinhos. É o sorriso ao ler a mensagem, o desentendimento de buzinas no trânsito, o choro discreto ao ser injustiçado...
Ser grato ao fim de tudo é como enxergar o contorno do sol atrás das nuvens escuras. É preciso saber o que fazer quando se está sozinho e coexistir no contraste do nosso lado bom com o nosso lado negro. Somente quando nos sentirmos a vontade dentro da própria pele, sem segurar a mão de ninguém, seremos capazes de assimilar as despedidas com menos lágrimas e mais sensatez para que o coração possa finalmente descansar em paz.

Um comentário:

  1. Puta que pariu que texto é esse?!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
    Caralho, escreve logo um livro que eu quero comprar.
    Você tem uma maneira inteligente de enxergar situações, não fica de mimimi com o coração e sim de hahaha com a razão.
    Sou seu fã, sabia? É um prazer escrever com alguém tão competente. Parabéns pela coesão e talento, meu caro.

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