Imagem "o que eles pensam"

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terça-feira, 15 de outubro de 2013

Crônica - Corações Perdidos



Se existia alguma regra sobre primeiro encontro, não conhecíamos nenhuma. Éramos apenas estranhos que se esbarraram por acaso num lugar lotado, de pessoas vazias. Um sorriso, bochechas coradas, uma garrafa de whisky... Estendemos as mãos um para outro como quem pede socorro do passado trágico, do fundo do poço, do inevitável.

Dançamos como se estivéssemos nos telhados de Paris. Tropeçamos um no outro, falamos bobagens e rimos de tudo que não tinha graça. Num breve momento de intimidade, ela me disse tantas verdades. Que só os loucos morrem de amor, mais de uma vez.

Minhas mãos se firmavam em sua cintura, enquanto seu rosto cansado encostava-se em meu peito. Ela se movia delicadamente como num clássico dos anos 40. Contamos nossos sonhos, sonhos tão grandes quanto às tempestades de verão no final da tarde. 

Vez em quando, desviávamos olhares. Eu não queria que ela descobrisse meus medos. Entre um giro e outro, seu cabelo alaranjado prendia-se na minha barba mal feita. Éramos corações perdidos na solidão de um sábado. Nossas bocas então se arrastaram lentamente, uma em busca da outra: revirando sentidos. 

- Me empresta um cigarro? 
- Me leva pra casa? 
- Tira meu vestido. 
- Cuida de mim.

Não dissemos nada disso. Mais cinco minutos e o sol acordaria, voltaríamos para a decadência da nossa realidade. Casacos, bilhetes, números trocados, cada um num táxi para diferentes lados da cidade. Quem sabe, falaríamos de amor no próximo encontro.

Seu batom manchou minha camisa. E meu coração.


3 comentários:

  1. Já sou seu fã logo de cara!
    Curioso para saber o que acontece entre blues e rock'n roll e ansioso pelos próximos textos.
    :)

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  2. Tão denso, apaixonado. A maneira que você "canta" encanta!

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  3. Aaa Nadine que saudades dos seus textos! encanta nossos olhos e nosso coraçao!.. =D

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